quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ADAPTAÇÃO E ACOLHIMENTO-CISELE ORTIZ-1

Adaptação e Acolhimento:
Um cuidado inerente ao projeto educativo da instituição e
um indicador de qualidade do serviço prestado pela instituição.
Cisele Ortiz

“O acolhimento pode ser enfocado de diferentes pontos de vista.”
• das famílias que compartilham a educação da criança com a creche/pré-escola;
• da criança, do significado e emoção que é passar de um espaço seguro e conhecido, para outro em que é
necessário um investimento afetivo e intelectual para poder estar bem;
• do professor que recebe uma criança desconhecida e ainda tem as outras do grupo para acolher
• das outras crianças que estão chegando ou que fazem parte do grupo e precisam encarar o fato de que há
mais um, para repartir, mas também para somar.
• da instituição, nos aspectos organizacional e de gestão, que prevê espaço físico, materiais, tempo e
recursos humanos com competência para esta ação.”
“O acolhimento traz em si a dimensão do cotidiano, acolhimento todo dia na entrada, acolhimento após uma
temporada sem vir à escola, acolhimento quando algum imprevisto acontece e a criança sai mais tarde,
quando as outras já saíram, acolhimento após um período de doença, acolhimento por que é bom ser bem
recebida e sentir-se importante para alguém.
Quando somos acolhidos, bem recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de simpatia e abertura,
esperando o melhor daquele ambiente daquelas pessoas. Quando ao contrário somos recebidos friamente,
nossa tendência é também ignorar, não se envolver, passar desapercebidos. E o que acontece quando somos
mal recebidos? A gente jura não voltar mais àquele lugar!”
“Por que com a criança e sua família deveria ser diferente?”
“Se considerarmos que cuidar é considerar e atender as necessidades infantis, ouvir e observar as crianças,
seguir ao princípio de promoção de saúde, tanto ambiental como física e mental, interessar-se pela criança,
pelo que ela pensa, sente, sabe sobre as coisas, sobre os outros e sobre si mesma, adotar atitudes e
procedimentos adequados e fundamentados em conhecimentos construídos sobre as diferentes faixas etárias e
realidades sócias culturais, o processo de acolhimento é um dos primeiros a ser objeto de cuidado em relação
à criança.”
“Para a criança entrar na creche, pré-escola e mesmo na escola significa um processo ativo de construção de
novos conhecimentos e de vínculos. Quando a criança chega na instituição ela já tem expectativas sobre o
comportamento dos adultos, das outras crianças e até mesmo da forma de se relacionar com os objetos e
brinquedos, pois ela já construiu referências a partir de suas vivências e experiências, mesmo que seja uma
criança bem pequenina, um bebê. “
“Ela precisa de um tempo para que conscientemente fique claro para ela as diferenças entre sua casa e a
escola, assim como para que ela transfira seus sentimentos básicos de confiança e segurança para alguém.
Este tempo é bastante individualizado, algumas crianças passam por este momento de forma mais rápida,
outros mais lenta, não podemos estabelecer isto a priori.”
“As crianças lidam fundamentalmente com a ansiedade da separação: a escola tem um papel fundamental ao
estabelecer o corte na relação mãe-filho, e isto pode ser bastante positivo para ambos, no entanto pode gerar
insegurança e fantasias de abandono e a escola e o professor são o porto seguro da criança nesta situação,
garantindo-lhe o tempo todo através de sua atenção e de atividades adequadas o quanto elas não serão
esquecidas.” 
“Algumas crianças demonstram maior confiança e passam a freqüentar a escola como se naturalmente já
fizessem parte daquele ambiente; talvez sejam crianças melhor preparadas emocionalmente, que já tenham
vivenciado experiências positivas de separação, ou que esperam este momento ansiosamente, porque têm
outros irmãos que já freqüentam a escola.”
“Mas, a maior parte das crianças podem reagir fortemente à separação e há diferentes maneiras das crianças
reagirem a este processo: podem chorar ou ao contrário ficarem muito caladas, podem agredir a outras,
podem adoecer, podem recusar-se a comer, a dormir, a brincar, é preciso acolher estas manifestações e
conhecer a forma de cada um considerando como natural dentro deste processo e não rotulando a criança a
partir disto. Algumas crianças têm rituais específicos para dormir, comer ou usar o banheiro, outras usam
objetos tais como paninhos, chupetas, brinquedos e ficam apegadas a elas. Estas coisas têm um significado
especial para elas pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto estão próximas, lhes
proporciona maior conforto emocional e segurança. Deixar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus
rituais e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustarem ao grupo, proporciona suavidade ao
processo sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo.
Conversar a criança sobre seus sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer com ela, ajudar a
criança a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover sua auto- confiança para lidar
com esta situação”

Alguns indicadores de sofrimento
Outros sinais e indícios, além do choro, são reveladores do modo de estar na escola: dificuldade de vir para a
escola; dificuldade de separar-se da mãe ou de quem traz a criança para a escola; rejeitar ser cuidado por
outra pessoa; rejeitar alimentação; recusar-se a dormir; evitar usar o banheiro; recusar participar das
atividades propostas; recusar separar-se de seus objetos de apego, tais como chupetas e paninhos; ficar
apático ou ao contrário muito agitado; bater e agredir outras crianças sem motivo aparente; ficar doente
seguidamente ou desenvolver doenças crônicas ligadas ao intestino, ou, ao aparelho respiratório; machucar-se

continuamente, entre inúmeros outros que são característicos de cada criança e de sua história de vida.

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