Adaptação
e Acolhimento:
Um
cuidado inerente ao projeto educativo da instituição e
um
indicador de qualidade do serviço prestado pela instituição.
Cisele
Ortiz
“O
acolhimento pode ser enfocado de diferentes pontos de vista.”
• das
famílias que compartilham a educação da criança com a creche/pré-escola;
• da
criança, do significado e emoção que é passar de um espaço seguro e conhecido,
para outro em que é
necessário
um investimento afetivo e intelectual para poder estar bem;
• do
professor que recebe uma criança desconhecida e ainda tem as outras do grupo
para acolher
• das
outras crianças que estão chegando ou que fazem parte do grupo e precisam
encarar o fato de que há
mais um,
para repartir, mas também para somar.
• da
instituição, nos aspectos organizacional e de gestão, que prevê espaço físico,
materiais, tempo e
recursos
humanos com competência para esta ação.”
“O
acolhimento traz em si a dimensão do cotidiano, acolhimento todo dia na
entrada, acolhimento após uma
temporada
sem vir à escola, acolhimento quando algum imprevisto acontece e a criança sai
mais tarde,
quando
as outras já saíram, acolhimento após um período de doença, acolhimento por que
é bom ser bem
recebida
e sentir-se importante para alguém.
Quando
somos acolhidos, bem recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de
simpatia e abertura,
esperando
o melhor daquele ambiente daquelas pessoas. Quando ao contrário somos recebidos
friamente,
nossa
tendência é também ignorar, não se envolver, passar desapercebidos. E o que
acontece quando somos
mal
recebidos? A gente jura não voltar mais àquele lugar!”
“Por
que com a criança e sua família deveria ser diferente?”
“Se
considerarmos que cuidar é considerar e atender as necessidades infantis, ouvir
e observar as crianças,
seguir
ao princípio de promoção de saúde, tanto ambiental como física e mental,
interessar-se pela criança,
pelo
que ela pensa, sente, sabe sobre as coisas, sobre os outros e sobre si mesma,
adotar atitudes e
procedimentos
adequados e fundamentados em conhecimentos construídos sobre as diferentes
faixas etárias e
realidades
sócias culturais, o processo de acolhimento é um dos primeiros a ser objeto de
cuidado em relação
à criança.”
“Para a
criança entrar na creche, pré-escola e mesmo na escola significa um processo
ativo de construção de
novos
conhecimentos e de vínculos. Quando a criança chega na instituição ela já tem
expectativas sobre o
comportamento
dos adultos, das outras crianças e até mesmo da forma de se relacionar com os
objetos e
brinquedos,
pois ela já construiu referências a partir de suas vivências e experiências,
mesmo que seja uma
criança
bem pequenina, um bebê. “
“Ela
precisa de um tempo para que conscientemente fique claro para ela as diferenças
entre sua casa e a
escola,
assim como para que ela transfira seus sentimentos básicos de confiança e
segurança para alguém.
Este
tempo é bastante individualizado, algumas crianças passam por este momento de
forma mais rápida,
outros
mais lenta, não podemos estabelecer isto a priori.”
“As
crianças lidam fundamentalmente com a ansiedade da separação: a escola tem um
papel fundamental ao
estabelecer
o corte na relação mãe-filho, e isto pode ser bastante positivo para ambos, no
entanto pode gerar
insegurança
e fantasias de abandono e a escola e o professor são o porto seguro da criança
nesta situação,
garantindo-lhe
o tempo todo através de sua atenção e de atividades adequadas o quanto elas não
serão
esquecidas.”
“Algumas
crianças demonstram maior confiança e passam a freqüentar a escola como se
naturalmente já
fizessem
parte daquele ambiente; talvez sejam crianças melhor preparadas emocionalmente,
que já tenham
vivenciado
experiências positivas de separação, ou que esperam este momento ansiosamente,
porque têm
outros
irmãos que já freqüentam a escola.”
“Mas, a
maior parte das crianças podem reagir fortemente à separação e há diferentes
maneiras das crianças
reagirem
a este processo: podem chorar ou ao contrário ficarem muito caladas, podem
agredir a outras,
podem
adoecer, podem recusar-se a comer, a dormir, a brincar, é preciso acolher estas
manifestações e
conhecer
a forma de cada um considerando como natural dentro deste processo e não
rotulando a criança a
partir
disto. Algumas crianças têm rituais específicos para dormir, comer ou usar o
banheiro, outras usam
objetos
tais como paninhos, chupetas, brinquedos e ficam apegadas a elas. Estas coisas
têm um significado
especial
para elas pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto
estão próximas, lhes
proporciona
maior conforto emocional e segurança. Deixar que a criança mantenha seu jeito
de ser, seus
rituais
e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustarem ao grupo,
proporciona suavidade ao
processo
sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo.
Conversar
a criança sobre seus sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer
com ela, ajudar a
criança
a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover sua auto-
confiança para lidar
com
esta situação”
Alguns
indicadores de sofrimento
Outros
sinais e indícios, além do choro, são reveladores do modo de estar na escola:
dificuldade de vir para a
escola;
dificuldade de separar-se da mãe ou de quem traz a criança para a escola;
rejeitar ser cuidado por
outra
pessoa; rejeitar alimentação; recusar-se a dormir; evitar usar o banheiro;
recusar participar das
atividades
propostas; recusar separar-se de seus objetos de apego, tais como chupetas e
paninhos; ficar
apático
ou ao contrário muito agitado; bater e agredir outras crianças sem motivo
aparente; ficar doente
seguidamente
ou desenvolver doenças crônicas ligadas ao intestino, ou, ao aparelho
respiratório; machucar-se
continuamente,
entre inúmeros outros que são característicos de cada criança e de sua história
de vida.
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