quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ADAPTAÇÃO MADALENE FREIRE

PROCESSO DE ADAPTAÇÃO

            Processo de adaptação, momento de início da gestação. Às vezes, dá enjôo, outras não dá. Às vezes, medo, dúvidas de deixar o filho crescer ou não, tirar, sair, não enfrentar o novo, o desafio. Outras vezes a alegria de chegada de um começo de uma nova vida em gestação: processo de adaptação.
Lembranças de outras gestações. Diferenças. Maior segurança nessa, mas sempre única, nova gestação.  Porque é sempre um novo começo de encontro com a vida. Sempre aprendizado, sempre coração batendo, boca seca, exacerbação no que sou, no que cada um é. Aprendizado de ouvir o outro, aprendizado de falar, aprendizado de me enxergar, de me expor. Maior entendimento com a criança “chorona” que lá dentro de mim joga seu medo nos outros ou diz que não o tem, para não enfrentá-lo.
            Processo de adaptação; tempo de aprendizado:
            - com o meu descompromisso, comigo mesmo e com o grupo;
            - com a minha não entrega ao grupo, ao outro;
            - com a minha intolerância ao novo do outro;
            - com a minha arrogância e prepotência em relação ao não saber do outro.
            Processo de adaptação, sempre “banho” com os outros e comigo mesma. A água, às vezes, vem fria, outras, morna, outras vezes fervendo! Ainda não sei medir o fluxo e a temperatura adequada..., Não existe processo de adaptação sem banho (neutralidade), sem se molhar. Não existe embrião fora da bolsa d’água..., não existe adaptação sem o desejo, a disponibilidade de se entregar ao risco de conhecer, fazer o novo. Risco de entrega na busca permanente de conhecer o outro e a mim mesma, oferecendo-lhe o velho, o meu mais querido presente.
            Processo de adaptação, nunca termina, está reiniciando-se sempre. Sempre envolvido pelo medo do novo, que mexe com um pedaço meu que começa a nascer. Esconder-me, lamuriando-me ou vangloriando-me de tudo que já sei. Fugir..., não levará ao enfrentamento das dores das contrações que o parto provoca.
            Às vezes, faz-se necessário a intervenção de um bisturi afiado de educador, uma cesárea..., para a vida, o novo conhecimento nascer.
            Toda essa dor, toda essa ansiedade, esse medo traz a alegria, a emoção e o prazer de ver a cara da criança. Ter o recém-nascido, o novo conhecimento nas mãos.   
Madalena Freire



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