PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
Processo de adaptação, momento de início da gestação. Às
vezes, dá enjôo, outras não dá. Às vezes, medo, dúvidas de deixar o filho
crescer ou não, tirar, sair, não enfrentar o novo, o desafio. Outras vezes a
alegria de chegada de um começo de uma nova vida em gestação: processo de
adaptação.
Lembranças de outras
gestações. Diferenças. Maior segurança nessa, mas sempre única, nova
gestação. Porque é sempre um novo começo
de encontro com a vida. Sempre aprendizado, sempre coração batendo, boca seca,
exacerbação no que sou, no que cada um é. Aprendizado de ouvir o outro,
aprendizado de falar, aprendizado de me enxergar, de me expor. Maior
entendimento com a criança “chorona” que lá dentro de mim joga seu medo nos
outros ou diz que não o tem, para não enfrentá-lo.
Processo de adaptação; tempo de aprendizado:
- com o meu descompromisso, comigo mesmo e com o grupo;
- com a minha não entrega ao grupo, ao outro;
- com a minha intolerância ao novo do outro;
- com a minha arrogância e prepotência em relação ao não
saber do outro.
Processo de adaptação, sempre “banho” com os outros e
comigo mesma. A água, às vezes, vem fria, outras, morna, outras vezes fervendo!
Ainda não sei medir o fluxo e a temperatura adequada..., Não existe processo de
adaptação sem banho (neutralidade), sem se molhar. Não existe embrião fora da
bolsa d’água..., não existe adaptação sem o desejo, a disponibilidade de se
entregar ao risco de conhecer, fazer o novo. Risco de entrega na busca
permanente de conhecer o outro e a mim mesma, oferecendo-lhe o velho, o meu
mais querido presente.
Processo de adaptação, nunca termina, está reiniciando-se
sempre. Sempre envolvido pelo medo do novo, que mexe com um pedaço meu que
começa a nascer. Esconder-me, lamuriando-me ou vangloriando-me de tudo que já
sei. Fugir..., não levará ao enfrentamento das dores das contrações que o parto
provoca.
Às vezes, faz-se necessário a intervenção de um bisturi
afiado de educador, uma cesárea..., para a vida, o novo conhecimento nascer.
Toda essa dor, toda essa ansiedade, esse medo traz a
alegria, a emoção e o prazer de ver a cara da criança. Ter o recém-nascido, o
novo conhecimento nas mãos.
Madalena Freire
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